Humanismo

O termo “humanismo” passou a ser difundido no século XV para designar um conjunto de pessoas que, desde o século XIV, se esforçavam para alterar e renovar o tipo de estudos ministrados nas universidades medievais. As universidades tradicionais eram dominadas pela cultura da igreja e voltadas para três carreiras básicas: direito, medicina e teologia. Estas universidades defendiam uma concepção estática, hierárquica e dogmática da sociedade, da natureza e das coisas sagradas, com o objetivo de manter a ordem feudal. 

Em sua origem o humanismo foi um movimento formado por eruditos e pela elite social urbana, mas gradualmente o movimento foi ampliado e recebeu o apoio de todos os que se dedicassem a criticar a cultura tradicional e a elaborar um novo comportamento centrado no individuo. Desta forma outras pessoas passaram a fazer parte do movimento: professores, estudantes, poetas, artistas, pesquisadores e até clérigos.


Os humanistas baseavam seus estudos no programa “studia humanitatis” (estudos humanos) que incluíam a poesia, a filosofia, a história e a matemática. Estes estudos valorizavam o ensino das línguas clássicas (latim, grego) e depois o árabe, o hebraico e o aramaico. Os humanistas procuravam estudar os trabalhos de pensadores clássicos, mas rejeitavam os textos clássicos provenientes dos copistas ligados a igreja católica na idade média. Estes copistas tinham a tarefa de copiar (reproduzir) os textos clássicos, porque a imprensa ainda não tinha meios para reproduzir estes textos, isto só foi possível no inicio do século XVI, quando a imprensa se desenvolveu rapidamente. Os humanistas acusavam os copistas de cometer erros de interpretação, tradução ou alteração dos textos clássicos. Sendo assim os humanistas passaram a criticar estes textos de origem duvidosa e ao fazer isso desenvolveram a crítica filológica que tinha por objetivo encontrar a versão mais original possível dos textos clássicos. Buscava-se também saber o contexto histórico em que os textos clássicos foram escritos e as características daquelas sociedades. Ao observar o contexto histórico clássico os humanistas passam da critica filológica para a crítica histórica, e usam a crítica histórica para entender também a sua própria sociedade. Os humanistas começam a pesquisar as línguas (idiomas) da Europa moderna e estudam as sociedades urbanas, dessa forma os humanistas deram sua contribuição para a consolidação dos Estados Modernos, pois ajudaram a identificar os idiomas nacionais e as características de cada Estado e ao fazer isso contribuíram para formar uma ideia de identidade nacional, e essa ideia se consolidaria em momentos diferentes em cada Estado. Deve-se acrescentar que os humanistas não queriam simplesmente imitar os gregos ou os romanos, mas queriam buscar inspiração nos atos, crenças e realizações dos gregos e dos romanos para que pudessem construir um novo comportamento para o homem europeu.

Em geral os humanistas eram cristãos e procuravam interpretar a Bíblia usando a experiência e os valores da antiguidade que eram a exaltação do individuo, dos feitos históricos, da capacidade e da ação do homem e da sua liberdade. Toda esta valorização do homem, e de suas capacidades, é que identifica o ‘antropocentrismo’. Ao rejeitarem a interpretação e os dogmas católicos sobre a interpretação das sagradas escrituras os humanistas tentavam escapar da influência e poder da igreja católica nestes assuntos. Entretanto, os humanistas não abandonavam a crença em Deus. É claro que essa postura humanista entrava em conflito com os teólogos da igreja católica e com a cultura medieval. O antropocentrismo era oposto ao teocentrismo; a visão religiosa dominante da igreja era contrária a visão religiosa individual e plural dos humanistas. A mudança do comportamento humano defendida pelos humanistas era oposta ao comportamento tradicional medieval; o clero pregava a submissão total do homem a Deus e à igreja, enquanto os humanistas acreditavam em Deus, mas exerciam sua religiosidade individualmente, sem mediação da igreja, e exaltavam o caráter divino e racional do homem. Os humanistas defendiam a renovação da religião. Em sua obra o “Elogio da LoucuraErasmo ataca a imoralidade, a ganância e a venda de indulgências dentro da igreja católica. Em 1516 Erasmo publicou uma edição do Novo Testamento submetido a crítica filológica; esta edição mostrava a simplicidade da fé e a busca da reflexão interior, diferentemente da igreja católica onde a busca da fé dependia da igreja e onde a reflexão não deveria ser individualizada. Como podemos ver a ideia de reforma religiosa já existia mesmo antes da ‘Reforma Protestante’ impetrada por Lutero em 1517. Depois da Reforma Protestante de 1517 os humanistas entraram em conflito também com os protestantes; isto é, os humanistas defendiam a busca da experiência religiosa individual e esta postura entrava em conflito não apenas com os cristãos da igreja católica, mas também com os cristãos protestantes. 

Muitos pensadores humanistas foram perseguidos. Dante e Maquiavel conheceram o exílio. Galileu Galilei foi submetido à prisão e a tortura, Thomas Morus foi decapitado por ordem de Henrique VIII (da Inglaterra), Giordano Bruno foi condenado pela inquisição a morrer na fogueira; Miguel de Servet também foi queimado vivo pelos calvinistas de Genebra; Erasmo de Rotterdam foi perseguido e teve que fugir várias vezes para outros países. Alguns humanistas eram protegidos por instituições, príncipes ou por famílias poderosas, mas mesmo assim não se sentiam seguros. A maioria não aceitava proteção e não aceitava as ofertas de trabalhos destes protetores. Muitos humanistas acabaram morrendo na miséria como Luís de Camões (poeta) e Michelangelo (pintor e escultor italiano), este recusou o trabalho oferecido pelo Papa Paulo IV. 

Alguns dos humanistas mais conhecidos foram: O italiano Petrarca (1304 – 1374), o holandês Erasmo (monge, teólogo, erudito e pedagogo); no século XVI destacam-se Montaigne, o inglês Thomas Morus (obra: Utopia), o português Luís de Camões (obra: Os Lusíadas), o espanhol Miguel de Cervantes (obra: Don Quixote de La Mancha). O movimento humanista terminou no fim do século XVI. Já no século XVIII surgiu um novo humanismo, diferente do anterior, com caráter científico e humanitarista.

Dentro do Renascimento também tiveram espaço as idéias dos ‘utopistas’. As obras mais conhecidas foram a “Utopia” (1516) de Thomas Morus, a “Cidade do Sol” de Campanella e a “Nova Atlântida” de Francis Bacon. As três obras abordavam o mesmo assunto: uma comunidade ideal e imaginária onde as pessoas vivem felizes com trabalho e fartura. Estas comunidades utópicas refletiam o desejo de formar uma sociedade racional com ordem política e social e sem conflitos.


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